Perdoando os inimigos
Paulo Coelho
O abade reuniu-se com seu aluno preferido, e perguntou como ia seu progresso espiritual. O aluno respondeu que estava conseguindo dedicar a Deus todos os momentos de seu dia.
- Então, falta apenas perdoar os seus inimigos.
O rapaz ficou chocado:
- Mas eu não preciso! Não tenho raiva de meus inimigos!
- Você acha que Deus tem raiva de você?
- Claro que não!
- E mesmo assim você pede Seu perdão, não é verdade? Faça o mesmo com seus inimigos, mesmo que não sinta ódio por eles. Quem perdoa, está lavando e perfumando o próprio coração.
Os visitantes indesejáveis
Paulo Coelho
- Não temos portões em nosso mosteiro - Shantih comentou com o visitante.
- E como fazem com os ladrões?
- Não há nada de valioso aqui dentro. Se houvesse, já teríamos dado a quem precisa.
- E as pessoas inoportunas, que vem perturbar a paz de vocês?
- Nós as ignoramos, e elas vão embora - disse Shantih.
- Só isto? E isto dá resultado?
Shantih não respondeu. O visitante insistiu algumas vezes. Vendo que não obtinha resposta, resolveu partir.
"Viu como funciona?" disse Shantih para si mesmo, sorrindo.
O discípulo embriagado
Paulo Coelho
Um mestre zen tinha centenas de discípulos. Todos rezavam na hora certa – exceto um, que vivia bêbado.
O mestre foi envelhecendo. Alguns dos alunos mais virtuosos começaram a discutir quem seria o novo líder do grupo, aquele que receberia os importantes segredos da Tradição.
Na véspera de sua morte, porém, o mestre chamou o discípulo bêbado e lhe transmitiu os segredos ocultos.
Uma verdadeira revolta tomou conta dos outros.
- Que vergonha! – gritavam pelas ruas. - Nos sacrificamos por um mestre errado, que não sabe ver nossas qualidades.
Escutando a confusão do lado de fora, o mestre agonizante comentou:
- Eu precisava passar estes segredos para um homem que eu conhecesse bem. Todos os meus alunos eram muito virtuosos, e mostravam apenas suas qualidades. Isso é perigoso; a virtude muitas vezes serve para esconder a vaidade, o orgulho, a intolerância.
“Por isso escolhi o único discípulo que eu conhecia realmente bem, já que podia ver seu defeito: a bebedeira”.
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