NATAL
Acontecia. No vento. Na chuva.
Acontecia.
Era gente a correr pela música
acima.
Uma onda uma festa. Palavras a
saltar.
Eram carpas ou mãos. Um soluço uma
rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva.
Acontecia.
Na tua boca. No teu rosto. No teu
corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos.
(Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos
quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua
noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.
Era um sopro. Era um salmo.
(Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou
sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada
curva
acontecia. E em cada acaso. Como um
pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.
Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa
brava
acontecia. E era Dezembro que
floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor
e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo:
nascimento de poesia.
Manuel Alegre