Velho
Tema
Só a leve esperança em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos
Vicente de Carvalho
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 Eu
cantarei de amor tão
fortemente
Eu cantarei de amor tão
fortemente
Com tal celeuma e com
tamanhos brados
Que afinal teus ouvidos,
dominados,
Hão de à força escutar
quanto eu sustente.
Quero que meu amor se te
apresente
- Não andrajoso e mendigando
agrados,
Mas tal como é: — risonho e
sem cuidados,
Muito de altivo, um tanto de
insolente.
Nem ele mais a desejar se
atreve
Do que merece: eu te amo, e
o meu desejo
Apenas cobra um bem que se
me deve.
Clamo, e não gemo; avanço, e
não rastejo;
E vou de olhos enxutos e
alma leve
À galharda conquista do teu
beijo.
Vicente de Carvalho
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