A BALADA DA SAUDADE
Chove. Lá
fora uma tristeza imensa
Da névoa que anda
espiralando no ar...
Dor de quem sofre, idéia de
quem pensa,
Olhar de quem está chorando,
pobre olhar!
Sobe de cada planta, lento e
lento
Um cheiro suave de mulher e
flor.
Abro-te os braços, sonho um
momento
Meu amor, meu amor, meu
grande amor!
Cá dentro no interior
discreto e mudo,
Beijo um retrato e ponho-me
a chorar.
A fantasia dos castelos!...
Tudo
Desfeito em argêntea poeira
de luar.
Esse êxtase, essa angustia,
esse esplendor,
Tudo apagando... Sonho de um
momento,
Meu amor, meu amor, meu
grande amor!
Sinto passos na rua... Meio
oculto,
Passa um vulto trauteando
uma ária qualquer.
Deve ser bem feliz aquele
vulto:
Não teve, em seu destino,
uma mulher!
Morre o canto... Depois, na
voz do vento,
Ouço um nome... É o desvairo
enganador!
Abro-te os braços, sonho de
um momento,
Meu amor, meu amor, meu
grande amor!