No baile
Ontem ao contemplá-la decotada,
Ao primor do seu colo descoberto,
Senti-me tonto, da vertigem perto,
Fremente o pulso, a vista deslumbrada.
E, como em láctea fonte perfumada,
Sorvi-lhe sonhos mil no seio aberto,
Com a sede de um filho do deserto
Que encontre enfim a linfa suspirada.
Giram em derredor das níveas flores,
Sofregamente, insetos zumbidores ...
- Meus desejos então foram assim...
Mas arredei os olhos, de repente,
Pois meu olhar podia, de tão quente,
Crestar-lhe a fina cútis de cetim!
(Poesias escolhidas, s/d)
Afonso Celso
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A
confiança
Sem ti, a mente se
afunda,
Minada em seus alicerces:
Feliz daquela em que exerces
Tua ascendência fecunda.
De quem te adota por guia
Quão segura a diretriz!
Sim! Feliz o que confia,
Feliz, três vezes feliz!
Mas, como o vidro, és
frangível.
Não raro, a um gesto, a uma
frase,
De chofre vai-se-te a base;
Cais, e, depois, é terrível.
O vidro quebrado corta
A mão que incauta o
apertou...
Oh! como a confiança morta,
Coração, te retalhou!
Tudo falácia e quimera...
- Tem talvez sorte bendita
Esse que em nada acredita,
Nada esperou, nada espera.
Afonso Celso
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